Um
assunto muito discutido é o tema da sexualidade, muitas vezes de forma leiga,
criando estereótipos falsos e rasos sobre os indivíduos com Esclerose Múltipla,
inclusive. Este é um tema que exige aprofundamento
e estudo constantes. Acredito, porém, na importância da discussão do assunto
enquanto profissional da saúde, a fim de tentar abrir uma reflexão que nos leve
a falar mais sobre algo tão polêmico, ameaçador para alguns, ainda coberto de
tabus e que, porém, é intrínseco à saúde de qualquer indivíduo. Atrevo-me a escrever um pouquinho sobre este
tema aqui a partir do tema da comida. Existe relação entre comida e
sexualidade?
Em
2006, a Organização Mundial de Saúde procurou definir a ideia de sexualidade, caracterizando
como: "...
Um aspecto central do ser humano ao longo da vida engloba sexo, identidades e
papéis de gênero, orientação sexual, erotismo, prazer, intimidade e reprodução.
A sexualidade é vivida e expressa em pensamentos, fantasias, desejos, crenças,
atitudes, valores, comportamentos, práticas, papéis e relacionamentos. Embora a
sexualidade pode incluir todas estas dimensões, nem todos eles são sempre
experimentado ou expresso. A sexualidade é influenciada pela interação de
fatores biológicos, psicológicos, sociais, econômicos, políticos, culturais,
legais, históricos, religiosos e espirituais ".
Imagem do filme "Chocolat". Diretor: Lasse Hallström. Ano de lançamento: 2001. |
Essa
definição parece interessante por ampliar o olhar à sexualidade. O coito não é
o que define a sexualidade, ele faz PARTE da sexualidade. Angelina Bulcão
Nascimento, em seu livro chamado "Comida: prazeres, gozos e
transgressões" apresenta a relação milenar entre sexualidade e a comida. Quem
já ouviu a expressão "comi ela/ele". Parece-lhe grosseiro? Mas é uma
representação clássica do quanto que o comer está envolto de erotismo e, de
alguma forma, aguça e é aguçado pela sexualidade dos indivíduos. O comer, seja
ele o que/quem for, carrega em si a ideia de incorporação, incorpora-se uma
ideia, um jeito de ser, uma escolha, uma possibilidade de acesso, uma falta de
escolha, uma história pessoal, um contexto religioso/cultural, um desejo, uma
transgressão (sobretudo na era das dietas).
Comer representa tudo isso.
Então, a comida pode oferecer
sensações sexuais?
Tanto
a sexualidade (não estou nem falando do sexo) quando o comer são vivenciados
pela sociedade a partir de diversas ritualizações e canalizações que tanto
podem aflorar quanto reprimir o prazer. A comida tem significado sexual, além
de tantos outros significados. E este prazer sexual em comer não é pecado, pelo
menos não para a área de Alimentação e Cultura! Fique tranquilo! Permitir-se comer com prazer é saudável. Não
entrarei hoje no mérito de frequência, porção etc etc, deixa para um outro
momento!
É
conhecido por todos, os poderes da culinária afrodisíaca (música sensual no ar)
!!! Não há compostos nos ingredientes dessa culinária que comprovadamente
despertem o apetite sexual, mas quer algo de mais comprovado do que as
sensações misteriosas do prazer ao comer uma comida que faça sentido para você?
O livro e filme "Comer, Rezar e
Amar", autobiografia da escritora Elizabeth Gilbert, traz
justamente essa ideia de autodescoberta e equilíbrio a partir de alguns
aspectos que a autora considera centrais para sua vida, como o espiritual, o
emocional, o afetivo, o sentir-se bem consigo mesma. O comer entraria em qual
destes aspectos? Eu diria que em todos! O que você sente ao comer? Prazer?
Culpa? Felicidade? Tudo a nossa volta influencia a forma como você come e
vivencia esse comer, inclusive a forma como você enxerga a si, a seu corpo, as
possibilidades de ser. Comer é uma
expressão de si, mas também do mundo que você vive. Como você vive sua
alimentação?
Nutricionista
Referências
World Health Organization (WHO). Sexual and reproductive health -
Defining Sexual Health. Diponível em < http://www.who.int/reproductivehealth/topics/sexual_health/sh_definitions/en/>
Acesso em 10 de novembro de 2016.
NASCIMENTO, AB. Aspectos
sexuais: comer e comer. In: Comida: prazeres, gozos e transgressões [online].
2nd. ed. rev. and enl. Salvador: EDUFBA, 2007, pp. 108-115.
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