terça-feira, 27 de março de 2018

O suicídio mora ao lado


Fonte: Google imagens

Setembro é o mês em que a prevenção ao suicídio é enfocada com mais ênfase, trata-se do "setembro amarelo". Todavia, esse é um assunto que deve receber a mesma atenção durante o ano inteiro, principalmente no que diz respeito aos adolescentes, pois é alarmante o número de pessoas  desta faixa etária que tentam o suicídio todos os dias no Brasil e no mundo. É preciso criar um alerta! Essa geração precisa ser socorrida, mas infelizmente, o rótulo “ABORRECENTE” ainda é unânime dentro da nossa sociedade. Quem nunca proferiu ou ouviu as típicas frases:No meu tempo não era assim!;Uma bela surra resolve!;Isso é falta do que fazer!”; “Quem quer se matar se mata!”? Na realidade quem quer se matar não quer morrer e, sim, aliviar sua dor. Acredito que muitos podem estar se perguntando mas que dor, se ser adolescente é a melhor fase da vida? Trata-se de um mero engano, pois ser adolescente nos dias de hoje é um grande desafio.

A adolescência é a fase que marca o fim e o começo, fase na qual predominam as dúvidas, as descobertas e as escolhas que podem influenciar drasticamente seus destinos. Então, afinal, o que se deve escolher?

Essas escolhas só podem ser feitas por meio de vivências, mas o que pensar quando não se tem liberdade ou, muitas vezes, tem liberdade demais?

Conflitos passam a fazer parte do cotidiano junto com a sensação de incompreensão.  O documentário Pro dia Nascer Feliz e o artigo de Sergio Ozella, Adolescência: uma perspectiva crítica, retratam com maestria a fase em que se depara com um mundo onde se cobra muito e não se doa com a mesma equivalência.

Os adolescentes contemporâneos vivem um período no qual a palavra “LIMITE” está em desuso. Eles conhecem o sim e o não, porém de forma inexplicada. Têm o mundo às suas mãos por meio da tecnologia, apesar do pouco conteúdo educativo e informativo.

Hoje, alguns pais estão usando a tecnologia para filmar os castigos aplicados como disciplina e, do outro lado, pais aplaudindo e tomando como exemplos sem levar em conta o impacto que estas exposições podem gerar. Educar requer limites, pois pode resultar em algo inverso.

Pais, escolas e Poder Público não estão preparados para conceber os adolescentes que nascem todos os dias. Olhares lançados quando eram crianças foram substituídos por olhares que os fazem perder a inocência. Com isso, novas aparências, novos desejos, novos desafios em conjunto com tantas transformações vêm de encontro ao desequilíbrio e, na maioria das vezes, à instabilidade emocional e psíquica.

As bases fornecidas aos adolescentes são as que irão fazer a diferença e elas são fundamentais para que se sintam seguros para explorarem as descobertas e para a aquisição de conhecimentos. Infelizmente, a realidade que vemos hoje é uma grande falta de estrutura para garantir que nossos adolescentes construam seus próprios alicerces. Essa é a fase em que os valores estão sendo revistos, é o momento em que passam a formar as próprias opiniões, período este que recebeu o nome de rebeldia. A família, assim como a sociedade e o Poder Público necessitam se preparar para acolherem estes adolescentes, dando a eles o suporte necessário para que cheguem à fase adulta com uma personalidade regada de valores éticos e caráter com princípios morais sólidos e incontestáveis. Quando os pais não estão preparados para compreenderem e dar suporte, existe a grande probabilidade de ser o momento decisivo para os conflitos ganharem seus papéis. Um pai e uma mãe que têm seus instintos protetores altamente evidenciados, esquecem que também foram adolescentes e passam a entrar em uma guerra alucinante, tentando encontrar naquele adolescente a sua criança meiga e participativa que exaltava seus pais como seus heróis. Esses pais por vezes deixam de enxergar seu próprio filho, para enxergarem um ser rebelde e desobediente. Na contramão existem os pais totalmente submissos aos filhos, permitindo que eles estejam no comando de suas próprias vidas sem nenhum discernimento e base constituída. Não podemos esquecer-nos dos adolescentes que hoje vivem nas ruas sem nenhuma chance de acesso à educação, totalmente entregues, por vezes, ao uso de substâncias tóxicas, onde o crime vive em paralelo.

Infelizmente, é raro ver adolescentes mantendo uma relação saudável com seus pais e com a sociedade. Fato lamentável em um período em que eles mais precisam de atenção, pois nada ainda é  definitivo para os adolescentes, tudo é incerto e eles ainda não estão preparados para enfrentarem as mudanças físicas e emocionais que virão pela frente. Estima-se, segundo pesquisas feitas por várias universidades brasileiras e financiadas pelo Governo Federal, que 1 (um) entre cada 3 (três) adolescentes estejam sofrendo de transtornos mentais. É impossível não se perguntar: “o tratamento vai de encontro às necessidades particulares de cada um?” “A família recebe o suporte necessário para aprender a lidar com os problemas?” A resposta para tantos questionamentos é não! Desse modo, estamos diante de um problema que já se pode denominar como epidemia e não existem ações que visem a minimização dos danos que os distúrbios emocionais acarretam nas personalidades desses adolescentes e também não existem políticas de inserção suficientes que lhes propiciem oportunidades para trilharam um caminho que os matenham longe da criminalidade. Nesse sentido, o filme Querô retrata muito bem que a falta de oportunidades, em muitos casos, é fator determinante para que muitos adolescentes sejam empurrados para a marginalidade.

Falando dos adolescentes que não fazem parte deste contexto, mas que estão adoecidos emocionalmente e muitos deles sofrendo de doenças crônicas como a Esclerose Múltipla, entre tantas outras patologias, ao contrário do que é imaginado pelos adultos, eles precisam de apoio, compreensão e respeito, estão passando por transformações e cabe à sociedade entender, compreender e apoiar cada uma das suas necessidades. Mesmo que num primeiro momento o adolescente se mostre contra, ainda assim é competência do adulto ter os subsídios para dar o suporte necessário.  
      
Finalizo esse texto com a ânsia de provocar uma reflexão e idealizando que as estatísticas possam, num futuro breve, nos mostrarem que o suicídio está sendo erradicado e que esses adolescentes recebam o suporte necessário para que adquiram capacidade de desenvolverem condições para lidarem com as frustrações advindas na fase da vida adulta. 

Vilma Prado





Estudante de psicologia. Saiu em  busca do autoconhecimento e aprendeu que sua felicidade depende apenas dela mesma. Libertação, superação e determinação a definem.

4 comentários:

  1. Esse é um tema delicado, porém, muito necessário. Ele fica mais perigoso quando se torna tabu. Adorei ver nossas discussões presentes no texto. Parabéns Rosangela!

    ResponderExcluir
  2. Concordo com este assunto, pois são assuntos que desperta o conhecimento o objetivo e subjetivo para saber que a vida é cheio de surpresas agradáveis e desagradáveis, porém compartilhar nossas dores e um grande remédio que causa alívio e cura. Parabéns.

    ResponderExcluir
  3. Leitura pertinente que nos convida a refletir sobre uma fase da vida permeada de dúvidas e incertezas, chamada; adolescência. Que possamos avançar, no sentido de maior compreensão e empatia e acolher a dor do outro, livre de julgamento.

    ResponderExcluir