quinta-feira, 24 de março de 2016

O prazer em comer


Obra de Josefa de Ayala Figueira, 1676.

Para iniciar com minha colaboração no blog, escrevo sobre a importância de respeitarmos a complexidade da nossa alimentação.  Há várias pesquisas em andamento sobre nutrientes e tipos de alimentações que podem otimizar a saúde da pessoa com Esclerose Múltipla.  Mas a verdade é que estas escolhas devem sempre se guiar pelo quadro de sintomas da Esclerose para você naquele momento específico e, mais do que isto, as escolhas alimentares devem sim ser condizentes com o que é prazeroso para você.
Alimento tem uma definição técnica de tudo aquilo que serve como um reservatório de nutrientes; a ANVISA¹ define assim: "Alimento: toda substância ou mistura de substâncias, no estado sólido, líquido, pastoso ou qualquer outra forma adequada, destinadas a fornecer ao organismo humano os elementos normais à sua formação, manutenção e desenvolvimento". Contudo, existe uma diferença muito importante entre o que é alimento e o que é comida. Vocês já pensaram nisto? A comida tem uma definição bem mais ampla, que envolve escolhas. Para ser comida, o alimento tem que ter sido aceito por uma determinada cultura como bom e comível. Toda comida provavelmente é um alimento, mas nem todo alimento será comida. Confuso? Valorizar esta diferença é valorizar o direito de todos a realizarem escolhas alimentares a partir de suas identidades socioculturais. Falar em comida é também falar em comer com prazer. Em muitos casos, a pessoa com Esclerose Múltipla busca uma alimentação racionalizada apenas ao fisiológico, o que é reforçado por muitos meios de comunicação. Reduzir a alimentação apenas ao fisiológico pode ser um erro.
Nossas escolhas devem ser contextualizadas. Contextualizar com o quê? Com nossas demandas fisiológicas, sim, mas também com nossas memórias alimentares, com nossas sensações de fome e de saciedade, com nossas vontades. E o resultado disto?? Maior capacidade de realizar escolhas de maneira autônoma (a relação profissional-paciente não se torna dependente), de maneira consciente, além de uma relação com a comida em que o prazer está mais presente. Quando comemos com prazer, a comida tem a capacidade de nos gerar bem-estar, saúde mental e física. A terapêutica pode ser de maior sucesso e a saúde da pessoa com Esclerose Múltipla pode ser bem mais otimizada.
Proponho um exercício para você. Ao longo da semana, observe e reflita sobre o quão prazerosas são as suas refeições e o que as fazem prazerosas ou o que as fariam mais prazerosas. Se houver alguém que queira enviar as reflexões, irei gostar muito de ler. Próximas postagens minhas podem inclusive trazer elementos das reflexões.
Obrigada por permitirem que eu colabore, mesmo que só um pouquinho, com a ABCEM.

Fernanda Sabatini
Nutricionista - Mestranda em Nutrição em Saúde Pública 


Fontes: ¹ Agência de Vigilância Sanitária: Decreto-lei nº 986, de 21 de outubro de 1969
             Imagem: discoverbaroqueart.org



2 comentários:

  1. Boa noite Fernanda!

    Seja muito bem vinda aqui no Blog e parabéns pelo post! Com certeza você tem muito a compartilhar com todos nós que vivemos acompanhados pela EM.

    Bjs

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  2. Adorei Fernanda!!!
    Vou contar um pouco sobre mim e te dar 3 sugestões!
    Eu particularmente, tenho excesso de peso e desde o meu primeiro surto, há 20 anos, que foi um surto muito forte, mas que recuperei tudo, graças a Deus e a minha dedicação e vontade de voltar a viver com qualidade de vida......mas voltando ao excesso de peso, eu fiz 3 pulso terapias e inchei muito e assim ganhei peso e nesses 20 anos fiquei a mercê do efeito sanfona... engorda e emagrece.......até que aprendi a me amar e continuo com os quilos a mais e de bem comigo e com a vida!
    Continuo precisando emagrecer e agora, apesar de surtos mais leves, que foram só 4 no total.......meu caminhar é limitado pelo equilíbrio ruim, principalmente. Tenho fortes dores na lombar pelo excesso de peso e mudança no estilo de vida, pois a minha carga diária de afazeres aumentou muito desde novembro do ano passado.
    Faço fisioterapia e tínhamos começado um programa de exercícios no fim do ano passado, que tive que parar por conta das dores excessiva na lombar. Por eu estar tão feliz e realizada com tudo que venho fazendo diariamente, será o indicado adaptarmos meu corpo ao novo estilo de vida com disciplina, organização do meu dia e etc. Não queremos e nem devemos retroceder ao sedentarismo.
    Sugestões ou perguntas:
    1. A ansiedade é um grande vilão para a maioria dos pacientes com Esclerose Múltipla. Existem alimentos que ajudam a lidar com a ansiedade?
    2. Já tenho uma alimentação mais balanceada, adoro frutas, verduras e legumes, mas os carboidratos e doces são os mais difíceis de evitar, para mim. Porque isso acontece?
    3. Como muitos pacientes com Esclerose Múltipla fazem uso de corticoides, existe alguma forma de alimentação que favorece a eliminação de líquido (inchaço)?
    Agradeço desde já, Fernanda, pela sua colaboração ao blog da ABCEM.
    Seja muito bem-vinda!!
    Super beijo

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