sexta-feira, 8 de abril de 2016

Disfagia


Fonte: Google imagens


Quem nunca salivou diante de um prato de comida que atire a primeira pedra. Quem nunca sentiu a boca inundar ao imaginar um pedaço de seu bolo predileto? A salivação, nessa situação, é um comando do cérebro para auxiliar na formação do bolo alimentar. Imagino que muitos estejam se perguntando o que, exatamente, seja o bolo alimentar.

Para entendermos o que é o bolo alimentar precisamos conhecer o processo de deglutição do alimento. Todo processo tem início com a mastigação. É nesse momento que o alimento é partido, triturado e moído, ligando-se pela ação da saliva. E é essa mistura que recebe o nome de bolo alimentar. O bolo alimentar é o que deverá ser deglutido. Esse processo sofre ação muscular, é comandado pelo cérebro e é consciente.

Quando deglutido o alimento desce pela faringe (garganta) e é ai que mora o perigo. Se esse alimento pega o caminho errado e, ao invés de ir para o esôfago para chegar ao estômago ele vai para traqueia, que é o caminho que levará esse alimento para os pulmões. A proteção da traqueia é realizada pela epiglote (cartilagem da laringe) que tem ação semelhante a de uma porta, fechando a passagem em direção ao pulmão e conduzindo o alimento para o esôfago. Nessa fase o processo de deglutição sofre ação muscular, mas é automático, não temos como comandá-los. Assista a esse vídeo, tenho certeza que irá gostar:  (clique aqui para assistir).

Mas o que a esclerose múltipla (EM) tem a ver com tudo isso? Como já sabemos a esclerose múltipla é uma doença desmielinizante (para maiores esclarecimentos veja a coluna do Dr. Marcelo Alfredo (clique aqui para ler) que causa o comprometimento da transmissão do impulso nervoso para diversas regiões do corpo, especialmente músculos, o que leva a  sintomas como espasticidade e fraqueza muscular. Sendo a deglutição comandada por impulsos nervosos que agirão nos músculos, a disfagia, nome dado ao distúrbio da deglutição, pode ser uma das manifestações da EM. Estudos mostram que 1 em 3 pacientes com esclerose múltipla possuem alterações relacionadas à deglutição, em diferentes graus. Estudos longitudinais mostram que com a evolução da EM a porcentagem de pacientes com disfagia aumenta, chegando a 90%.  A fraqueza muscular e a incoordenação motora podem levar a dificuldade de preparação do bolo alimentar e na sua propulsão, dificultando a entrada do alimento na faringe. A proteção das vias aéreas também pode ser prejudicada, uma vez que há comprometimento da movimentação laríngea. As fases automáticas também podem ser comprometidas com o avançar da doença.

Imagino que vocês possam estar se questionando que tipos de alimentos podem provocar a disfagia. Inicialmente, haverá maior comprometimento na deglutição de líquidos, posteriormente, pastosos e sólidos também se tornarão de difícil deglutição.

Outro questionamento que imagino que possa ocorrer é quanto às complicações da disfagia. Os mais comuns são desidratação, desnutrição e pneumonia por aspiração de alimentos. Assim sendo, a disfagia é um importante fator de risco para aumento da morbidade e mortalidade de pacientes com EM.

Pacientes e familiares devem estar atentos a alguns sinais da disfagia, sendo eles:

- Quanto tempo ele está levando atualmente para comer uma refeição e como era antes?
· Houve modificação na dieta e quais comidas estão sendo bem mal toleradas?
· Existem movimentos exagerados de boca durante a mastigação?
· Existe dificuldade de começar a deglutir?
· Há necessidade de deglutir duas ou três vezes?
· A comida sobra na língua ou vestíbulos após deglutir?
· A comida volta através do nariz?
- Há sensação de alimento parado na garganta?
- Foram notadas febres sem causa aparente?
· Teve perda de peso ultimamente?
· Há baba excessiva, em especial imediatamente depois de comer?
· Há pigarro depois de comer ou beber?
· Há tosse ou sufocamento enquanto come ou bebe?
· Há tosse ou se sente sufocado depois de comer ou beber?
· Aparecem alterações vocais durante ou depois de comer? Rouquidão?
· Existem infecções respiratórias frequentes?
· Ocorreram quadros de pneumonia?

É fundamental que um médico e um fonoaudiólogo sejam consultados quando pacientes ou familiares perceberem qualquer dificuldade de alimentação. 


Erika Longone
Fonoaudióloga

6 comentários:

  1. Parabéns!!!
    Quase todas as informações apresentadas neste texto visualizo na minha mãe que possui disfagia em decorrencia de AVC. Uma constante batalha.

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  2. A médica da minha irmã Dra. Claudia Vasconcelos, deveria ter nos orientado sobre isso. Agora é tarde demais... Ocorreram quadros de pneumonia de repetição... A minha irmã faleceu no dia 14 de março deste ano

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  3. Por que o meu comentario não foi publicado?

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  4. A medica da minha irmã deveria ter nos orientado melhor sobre disfagia e disartria. Agora é tarde demais

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