quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Descoisando o que está coisado (sobre acessibilidade)


Fonte:  http://blogdainclusaosocial.com.br/wp-content/uploads/2014/02/FALTA-DE-ACESSIBILIDADE.jpg

Hoje vamos falar um pouco sobre acessibilidade e sobre como ela é vista e entendida de forma errada pela maioria das pessoas, incluindo os arquitetos!

1° "Acessibilidade serve para deficientes físicos".

- Não, acessibilidade não serve apenas para pessoas com deficiência física, mas serve TAMBÉM para pessoas com deficiência física.

A acessibilidade nada mais é do que tornar algo acessível, e ela serve para pessoas com deficiência intelectual, visual, auditiva, pessoas com mobilidade reduzida, idosos, gestantes, pessoas com criança de colo, pessoas com carrinho de bebê, pedestres, pessoas que estão andando com várias sacolas na rua, pessoas distraídas, pessoas que estão temporariamente com mobilidade reduzida porque quebraram o pé, a perna, o braço ou qualquer outra parte do corpo. Com certeza de algum desses quesitos você fará parte em algum momento da sua vida. 

Uma caçada toda esburacada não é ruim apenas para quem anda com cadeira de rodas, mas é ruim para qualquer pedestre.

2° "Melhor conseguir entrar no prédio com ajuda do que não conseguir entrar".

- Melhor conseguir entrar no prédio com autonomia e dignidade, ninguém quer ser carregado e ajudado 24 horas por dia, isso faz com que a pessoa se sinta um peso para a sociedade. Lembrando também que muitas vezes tem alguém que precisa andar com a pessoa o dia todo, imagina uma mãe com um filho adulto, tendo que ajudar o filho a subir no ônibus, ajudar a levantar a cadeira de rodas em cada loja que entrar, por causa do degrau, empurrar a cadeira naquelas rampas inclinadas, não da né? haja preparo físico.

3° "A gente faz uma entrada principal, coloca uma escadaria bonita, aí no fundo a gente coloca uma entrada para deficientes".

- Todo mundo entrando bonitamente pela entrada principal, menos a pessoa com deficiência, "desculpa, você tem que ir naquela entrada meia boca, bem escondida lá no fundo". E não me venha falar que é preocupação fazer uma entrada separada porque não é, todos nós sabemos que isso é preguiça de projetar pensando em todos, aliás, isso me lembra o Teatro Municipal que quando foi construído possuía a Entrada da Primeira Ordem, onde ficavam as autoridades e a elite, a Segunda ordem, onde ficavam as pessoas ricas, e a Terceira ordem, apelidada de galinheiro (por esse nome não preciso nem explicar).

Quando separamos uma entrada por classe social é bem estranho, então quando separamos por "pessoas sem deficiência" e "pessoas com deficiência" também deveria ser estranho.

4° "Como arquiteto, você tem que avaliar a data de construção, se o edifício é tombado, se na época construída as pessoas pensavam em acessibilidade".

- Como um ser humano dotado de cérebro, você tem que pensar que a pessoa com deficiência só quer saber se ela consegue entrar no edifício ou não. Tanto faz se é da década de 50, 60 ou 70, se na época não se pensava em acessibilidade, porque agora nós pensamos em acessibilidade (ou deveríamos) e é nosso dever não se conformar com o que acontece de errado no nosso meio.

A acessibilidade não é só norma, precisamos nos colocar no lugar do outro, pensar como uma pessoa com dificuldade usaria o lugar e se ela conseguiria usá-lo.

O mundo evoluiu, várias coisas que no passado eram consideradas normais, hoje vemos o quão absurdas eram. Desejo que no futuro, a falta de acessibilidade seja uma dessas coisas.


Camila Pavan
Arquiteta


Um comentário:

  1. Muito boa sua análise e crítica. Nós, como todos os outros temos direito a ir e vir livremente. Já vi postagem mostrando um motorista de ônibus, que acumula a função de trocador, descendo do ônibus pegando o cadeirante no colo, depois sua cadeira e as pessoas achando lindo. Realmente é lindo que alguém seja solidário, todos temos que ser, afinal é assim que se vive em sociedade. Mas o motorista, que está trabalhando, também tem seus problemas, possivelmente de coluna, varizes...pode estar de mal humor ou não ser solidário. Por isso, tudo tem que ser projetado para nossa autonomia. Além do constrangimento de ser pego no colo com todos olhando, alguns achando o motorista um "lindinho fofo", outros, cheios de pressa, reclamando. Enfim, muito apropriada sua colocação.

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