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Hoje vamos falar um pouco sobre acessibilidade e sobre como ela é vista e
entendida de forma errada pela maioria das pessoas, incluindo os arquitetos!
1° "Acessibilidade serve para deficientes físicos".
- Não, acessibilidade não serve apenas para pessoas com deficiência física, mas
serve TAMBÉM para pessoas com deficiência física.
A acessibilidade nada mais é do que tornar algo acessível, e ela serve para
pessoas com deficiência intelectual, visual, auditiva, pessoas com mobilidade
reduzida, idosos, gestantes, pessoas com criança de colo, pessoas com carrinho
de bebê, pedestres, pessoas que estão andando com várias sacolas na rua,
pessoas distraídas, pessoas que estão temporariamente com mobilidade reduzida
porque quebraram o pé, a perna, o braço ou qualquer outra parte do corpo. Com
certeza de algum desses quesitos você fará parte em algum momento da sua
vida.
Uma caçada toda esburacada não é ruim apenas para quem anda com cadeira de
rodas, mas é ruim para qualquer pedestre.
2° "Melhor conseguir entrar no prédio com ajuda do que não conseguir
entrar".
- Melhor conseguir entrar no prédio com autonomia e dignidade, ninguém quer ser
carregado e ajudado 24 horas por dia, isso faz com que a pessoa se sinta um
peso para a sociedade. Lembrando também que muitas vezes tem alguém que precisa
andar com a pessoa o dia todo, imagina uma mãe com um filho adulto, tendo que
ajudar o filho a subir no ônibus, ajudar a levantar a cadeira de rodas em cada
loja que entrar, por causa do degrau, empurrar a cadeira naquelas rampas
inclinadas, não da né? haja preparo físico.
3° "A gente faz uma entrada principal, coloca uma escadaria bonita, aí no
fundo a gente coloca uma entrada para deficientes".
- Todo mundo entrando bonitamente pela entrada principal, menos a pessoa com
deficiência, "desculpa, você tem que ir naquela entrada meia boca, bem
escondida lá no fundo". E não me venha falar que é preocupação fazer uma
entrada separada porque não é, todos nós sabemos que isso é preguiça de
projetar pensando em todos, aliás, isso me lembra o Teatro Municipal que quando
foi construído possuía a Entrada da Primeira Ordem, onde ficavam as
autoridades e a elite, a Segunda ordem, onde ficavam as pessoas ricas, e a
Terceira ordem, apelidada de galinheiro (por esse nome não preciso nem
explicar).
Quando separamos uma entrada por classe social é bem estranho, então quando
separamos por "pessoas sem deficiência" e "pessoas com
deficiência" também deveria ser estranho.
4° "Como arquiteto, você tem que avaliar a data de construção, se o
edifício é tombado, se na época construída as pessoas pensavam em
acessibilidade".
- Como um ser humano dotado de cérebro, você tem que pensar que a pessoa com
deficiência só quer saber se ela consegue entrar no edifício ou não. Tanto faz
se é da década de 50, 60 ou 70, se na época não se pensava em acessibilidade,
porque agora nós pensamos em acessibilidade (ou deveríamos) e é nosso dever
não se conformar com o que acontece de errado no nosso meio.
A acessibilidade não é só norma, precisamos nos colocar no lugar do outro,
pensar como uma pessoa com dificuldade usaria o lugar e se ela conseguiria
usá-lo.
O mundo evoluiu, várias coisas que no passado eram consideradas normais, hoje
vemos o quão absurdas eram. Desejo que no futuro, a falta de acessibilidade
seja uma dessas coisas.
Camila Pavan
Arquiteta
Muito boa sua análise e crítica. Nós, como todos os outros temos direito a ir e vir livremente. Já vi postagem mostrando um motorista de ônibus, que acumula a função de trocador, descendo do ônibus pegando o cadeirante no colo, depois sua cadeira e as pessoas achando lindo. Realmente é lindo que alguém seja solidário, todos temos que ser, afinal é assim que se vive em sociedade. Mas o motorista, que está trabalhando, também tem seus problemas, possivelmente de coluna, varizes...pode estar de mal humor ou não ser solidário. Por isso, tudo tem que ser projetado para nossa autonomia. Além do constrangimento de ser pego no colo com todos olhando, alguns achando o motorista um "lindinho fofo", outros, cheios de pressa, reclamando. Enfim, muito apropriada sua colocação.
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