Fonte: www.usp.br |
A revista Arquivos de Neuropsiquiatria, de setembro último, trouxe um assunto de grande relevância no que se refere à sintomatologia da
esclerose múltipla - as alterações olfatórias em pessoas com a doença. Em um
estudo realizado pelo grupo de pesquisadores do CATEM (Centro de atendimento e
tratamento de esclerose múltipla) observou-se que esse sintoma encontra-se
presente em mais de 30% dos indivíduos acometidos pela patologia e que, aqueles com mais de
38 anos, apresentam 2,2 vezes mais chances de apresentarem esse comprometimento.
A esclerose múltipla, em geral, é precedida por uma
síndrome clinicamente isolada, frequentemente com envolvimento do nervo óptico,
do tronco cerebral e medula espinhal. Obviamente as avaliações clínicas seguem
a rota do envolvimento neurológico que permeia esses setores do sistema
nervoso, mas nada se sabia a respeito das questões olfatórias e, estas, até então ignoradas ou pouco valorizadas, despontam como potenciais marcadores, tanto do
acometimento quanto da progressão e gravidade da doença, de acordo com o artigo
citado. É mais uma ferramenta a ser investigada por todos nós e a pergunta que
se acrescenta é: como está a sua capacidade olfatória? Mudou alguma coisa ou
não?
Quanto mais nos esmeramos em estudar e entender as doenças
neurodegenerativas, mais exames são solicitados e mais dependentes ficamos da
tecnologia, dos exames de imagem mais sofisticados, tanto mais nos
surpreendemos com o quanto a clínica é mandatória e soberana. Um exame físico
bem feito e uma conversa amiga com o paciente revelam muita coisa. Claro que os
exames são essenciais, mas a clínica sem dúvida nenhuma diz muito sobre o
doente. Vale para todos os profissionais de saúde e para os indivíduos que
apresentam a enfermidade também. Os médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e
afins, precisam ser profundos curiosos e, o paciente, um falador! Quanto mais
estudamos, mais percebemos o quanto temos para aprender. Lembrei-me de uma
frase de Guimarães Rosa: “eu quase nada sei, mas desconfio de muita coisa”!
Vamos desconfiar mais!
Celiana Figueiredo
Fisioterapeuta
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