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A Esclerose Múltipla
(EM) é uma doença neurológica crônica, caracterizada por áreas de
desmielinização e lesões axonais associadas com atividade inflamatória. Tais
lesões são disseminadas em espaço e tempo e responsáveis pela falha ou bloqueio
na condução dos impulsos nervosos.
Na maioria dos
casos, a evolução da EM ocorre com a alternância de períodos de surto e
remissão. O surto ou exacerbação da EM é caracterizado pelo aparecimento de
sinais ou sintomas de disfunção neurológica, enquanto que a remissão é o
período pós-surto com retorno, total ou parcial, dos sintomas e sinais clínicos
a valores basais.
Os benefícios da
prática regular de exercícios físicos para pessoas saudáveis e na prevenção e
processo de tratamento de várias doenças têm sido comprovados por inúmeras
pesquisas. Observamos atualmente a utilização de forma cada vez mais criteriosa
do exercício aeróbio, de fortalecimento muscular ou de flexibilidade, na busca
de melhor qualidade de vida para todas as pessoas. No caso da EM, só
recentemente passou-se a considerar a implementação de programas com exercícios
físicos.
A diminuição da
força muscular é uma situação comum em pessoas com esclerose múltipla. Este
fato impacta na locomoção e na
execução das atividades de vida diárias, interferindo na manutenção de um estilo
de vida independente. As causas dessa perda de força estão ligadas tanto a
alterações no sistema nervoso central, como também, a alterações musculares
decorrentes do desuso.
Historicamente,
a indicação de exercícios físicos foi tida como inadequada para pessoas com EM.
Acreditava-se que tal prática, ao elevar a temperatura corporal, aumentasse a
fadiga e pudesse exacerbar os sintomas. Entretanto, esse quadro começou a mudar
a partir de pesquisas realizadas na década de 1980.
As pesquisas,
que continuam até hoje, demonstram ganhos relevantes na força muscular de
membros inferiores, diminuição na gordura corporal, níveis de triglicérides,
mudança positiva na qualidade de vida com redução da depressão, raiva, fadiga,
melhora na deambulação, mobilidade e cuidados corporais. Os estudos apontam
como possibilidade de exercícios a atividade aeróbica (como caminhada)
realizada na água, o fortalecimento resistido para os músculos dos membros
inferiores. Estes exercícios podem ser realizados com o auxílio de máquinas,
caneleiras, “somente” contra a gravidade, pode-se ainda utilizar borrachas
específicas para exercícios (Thera Band).
Podemos nos
questionar o porquê destas atividades. Os estudos citam relatos de melhora dos
participantes na execução de atividades rotineiras como entrar e sair do carro
e sentar e levantar de uma cadeira. A população que não vivencia a EM pode
entender que não é necessário um treinamento de força para o desenvolvimento de
atividades “tão banais”, porém para o portador da doença, muitas vezes,
desenvolver estes ganhos pode aproximá-lo de uma independência.
Em relação ao
ganho de força, a única ressalva é que os estudos que demonstraram o ganho
efetivo de força foram realizados com pessoas com incapacidade moderada.
Contrariamente ao conceito antigo de
que pessoas com EM deveriam evitar a prática de esforços físicos como forma de
reduzir ou conter a fadiga, alguns estudos foram conduzidos com exercícios
físicos para essa população e, satisfatoriamente, demonstraram a redução da
fadiga geral.
Fadiga merece ter seu conceito
ampliado. A partir de uma abordagem fenomenológica, o significado da fadiga
para mulheres com EM foi descrito como "viver com um corpo como uma
barreira", "com o sentimento de estar ausente" e
"experimentar o mundo ao redor como inalcançável”. Ainda sob a mesma
abordagem, a fadiga é sentida e expressada em termos de perda de energia,
aflições emocionais, dependência e restrições da vida em geral. De fato, a
fadiga tem um efeito tremendo nas atividades de vida diária de pessoas com EM,
interferindo no trabalho, vida familiar e atividades sociais. Assim, associa-se
significativamente a baixos valores de qualidade de vida, independente do curso
clínico ou grau de incapacidade da doença.
Além do ganho de força e da melhora
da capacidade aeróbica, os exercícios físicos apontam para uma melhora na
sensação da fadiga. Neste caso a fadiga pode estar relacionada à falta de
treino das pessoas. A Ioga também tem sido utilizada como ferramenta para a
melhora dos níveis de fadiga.
Buscando reduzir o impacto da fadiga
no cotidiano de pessoas com EM pode-se seguir uma série de princípios básicos
para conservação de energia:
- Trabalhar em ritmo moderado
- Agendar períodos de descanso
- Organizar tarefas para evitar a subida desnecessária de escada
- Manter boa postura durante atividades
- Organizar a área de trabalho
- Evitar levantar ou carregar objetos pesados
- Delegar tarefas que sejam muito estressantes ou fatigantes
- Garantir temperatura apropriada no local de trabalho
Não se deve compreender estas orientações como a adoção de um estilo de vida sedentário, uma vez que a prática de atividades físicas e de lazer de baixa a moderada intensidade reduz o risco de doenças hipocinéticas, assim como doença cardíaca, e a obesidade. Assim, para pessoas com EM é importante respeitar os aspectos individuais em relação à fadiga, mantendo-se tão ativos quanto possível.
Egon Félix Hadermann
Parabéns pelo post Egon! Adorei!
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