terça-feira, 22 de março de 2016

Esclerose Múltipla e atividade física


Fonte: Google imagens


A Esclerose Múltipla (EM) é uma doença neurológica crônica, caracterizada por áreas de desmielinização e lesões axonais associadas com atividade inflamatória. Tais lesões são disseminadas em espaço e tempo e responsáveis pela falha ou bloqueio na condução dos impulsos nervosos.

Na maioria dos casos, a evolução da EM ocorre com a alternância de períodos de surto e remissão. O surto ou exacerbação da EM é caracterizado pelo aparecimento de sinais ou sintomas de disfunção neurológica, enquanto que a remissão é o período pós-surto com retorno, total ou parcial, dos sintomas e sinais clínicos a valores basais.

Os benefícios da prática regular de exercícios físicos para pessoas saudáveis e na prevenção e processo de tratamento de várias doenças têm sido comprovados por inúmeras pesquisas. Observamos atualmente a utilização de forma cada vez mais criteriosa do exercício aeróbio, de fortalecimento muscular ou de flexibilidade, na busca de melhor qualidade de vida para todas as pessoas. No caso da EM, só recentemente passou-se a considerar a implementação de programas com exercícios físicos.

A diminuição da força muscular é uma situação comum em pessoas com esclerose múltipla. Este fato impacta na locomoção e na execução das atividades de vida diárias, interferindo na manutenção de um estilo de vida independente. As causas dessa perda de força estão ligadas tanto a alterações no sistema nervoso central, como também, a alterações musculares decorrentes do desuso.

Historicamente, a indicação de exercícios físicos foi tida como inadequada para pessoas com EM. Acreditava-se que tal prática, ao elevar a temperatura corporal, aumentasse a fadiga e pudesse exacerbar os sintomas. Entretanto, esse quadro começou a mudar a partir de pesquisas realizadas na década de 1980.
As pesquisas, que continuam até hoje, demonstram ganhos relevantes na força muscular de membros inferiores, diminuição na gordura corporal, níveis de triglicérides, mudança positiva na qualidade de vida com redução da depressão, raiva, fadiga, melhora na deambulação, mobilidade e cuidados corporais. Os estudos apontam como possibilidade de exercícios a atividade aeróbica (como caminhada) realizada na água, o fortalecimento resistido para os músculos dos membros inferiores. Estes exercícios podem ser realizados com o auxílio de máquinas, caneleiras, “somente” contra a gravidade, pode-se ainda utilizar borrachas específicas para exercícios (Thera Band).

Podemos nos questionar o porquê destas atividades. Os estudos citam relatos de melhora dos participantes na execução de atividades rotineiras como entrar e sair do carro e sentar e levantar de uma cadeira. A população que não vivencia a EM pode entender que não é necessário um treinamento de força para o desenvolvimento de atividades “tão banais”, porém para o portador da doença, muitas vezes, desenvolver estes ganhos pode aproximá-lo de uma independência.

Em relação ao ganho de força, a única ressalva é que os estudos que demonstraram o ganho efetivo de força foram realizados com pessoas com incapacidade moderada.

Contrariamente ao conceito antigo de que pessoas com EM deveriam evitar a prática de esforços físicos como forma de reduzir ou conter a fadiga, alguns estudos foram conduzidos com exercícios físicos para essa população e, satisfatoriamente, demonstraram a redução da fadiga geral.

Fadiga merece ter seu conceito ampliado. A partir de uma abordagem fenomenológica, o significado da fadiga para mulheres com EM foi descrito como "viver com um corpo como uma barreira", "com o sentimento de estar ausente" e "experimentar o mundo ao redor como inalcançável”. Ainda sob a mesma abordagem, a fadiga é sentida e expressada em termos de perda de energia, aflições emocionais, dependência e restrições da vida em geral. De fato, a fadiga tem um efeito tremendo nas atividades de vida diária de pessoas com EM, interferindo no trabalho, vida familiar e atividades sociais. Assim, associa-se significativamente a baixos valores de qualidade de vida, independente do curso clínico ou grau de incapacidade da doença.

Além do ganho de força e da melhora da capacidade aeróbica, os exercícios físicos apontam para uma melhora na sensação da fadiga. Neste caso a fadiga pode estar relacionada à falta de treino das pessoas. A Ioga também tem sido utilizada como ferramenta para a melhora dos níveis de fadiga.

Buscando reduzir o impacto da fadiga no cotidiano de pessoas com EM pode-se seguir uma série de princípios básicos para conservação de energia:

- Trabalhar em ritmo moderado
- Agendar períodos de descanso
- Organizar tarefas para evitar a subida desnecessária de escada
- Manter boa postura durante atividades
- Organizar a área de trabalho
- Evitar levantar ou carregar objetos pesados
- Delegar tarefas que sejam muito estressantes ou fatigantes
- Garantir temperatura apropriada no local de trabalho

Não se deve compreender estas orientações como a adoção de um estilo de vida sedentário, uma vez que a prática de atividades físicas e de lazer de baixa a moderada intensidade reduz o risco de doenças hipocinéticas, assim como doença cardíaca, e a obesidade. Assim, para pessoas com EM é importante respeitar os aspectos individuais em relação à fadiga, mantendo-se tão ativos quanto possível.


Egon Félix Hadermann


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