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Não somos sempre o que queremos, mas o que as
circunstâncias nos permitem ser.
(Marquês de Maricá)
Você está razoavelmente bem, dentro do que é possível estar sendo esclerosado,
quando, sem ao menos avisar, a malvada da Esclerose Múltipla resolve te fazer
surtar e todos os ganhos que teve em relação às sequelas do último surto são
reduzidas a nada e você tem de começar tudo outra vez.
Esse recomeçar constante vai minando nossas energias,
desgastando nossas forças e, cada dia mais, precisamos nos transformar em
heróis, a fim de não sucumbirmos e ficar completamente à mercê dessa impotência
que nos atinge quando um surto nos pega.
Mas, como eternos insatisfeitos com a situação em que
estamos, jamais nos deixamos enraizar no que não nos faz bem e então arrumamos
forças que não sabemos de onde, nos levantamos e recomeçamos... e
recomeçamos... e recomeçamos por quantas vezes se fizerem necessárias.
Surtar envolve tantas coisas... surtar vai muito além de
ganharmos uma nova lesão ou uma antiga entrar em atividade, inflamando nosso
sistema nervoso central... surtar vai além de termos nossa capacidade física
reduzida... vai além de termos de nos entupir de corticoides, pulsando,
pulsando, pulsando... surtar vai além de incharmos, ficarmos insones mesmo nos
sentindo exaustos... surtar é o grau máximo de esclerosar, é sentir
pungentemente o peso da Esclerose Múltipla nas nossas vidas... surtar envolve
nosso corpo, nossa mente, nossas emoções e nossa capacidade de superação.
Fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional,
psicoterapia, exercícios físicos, medicamentos para amenizar as dores, as
vertigens, a fadiga extrema. A ansiedade, o medo de um novo surto, a
possibilidade de troca de medicação... tudo isso vem na bagagem do surto.
Precisamos de tempo para nos recuperar de algo que chega repentinamente, mas
que não vai embora como chegou.
Surtar nos deixa frágeis, emotivos e poucos entendem a real
dimensão disso, na verdade, a maioria acredita que basta termos força de
vontade que tudo voltará a ser como estava antes... Ah! como queríamos que
apenas nosso querer pudesse dar conta de nos colocar em pé de novo, de nos
deixar no mesmo parâmetro que estávamos antes do surto... seria simplesmente
uma questão de querer ou não querer, coisa que não existe quando se trata da
Esclerose Múltipla, pois ela não obedece ao nosso querer, ela é indisciplinada,
sádica, bipolar e imprevisível. Nosso querer, com relação a ela, se atém a não
nos entregarmos por completo, a sempre lutarmos quando ela nos tiraniza...
nosso querer nos dá energia para nos levantarmos após cada surto e tentar buscar nos recuperar dos estragos provocados por ele.
Nosso querer não impede o surto, mas impede que sucumbamos.
Então, é hora de recomeçar, mais uma vez...
Bete Tezine
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