terça-feira, 25 de outubro de 2016

Fadiga


Fonte: Google imagens


Fadiga, palavra oriunda do latim - fatigare -  significa: cansar, estar cansado, letargia, estafa, esgotamento, sensação de enfraquecimento. 

Problemas:
  • Sintoma inespecífico, encontrado com frequência na população;
  • Pode ocorrer em indivíduos sadios;
  • Pode acompanhar várias patologias;
  • Dificuldade de estabelecer o que significa para o paciente, família, cuidador, equipe; multiprofissional e pesquisadores.

Conceito complexo e multidimensional com repercussão física, emocional, cognitiva e social. Impacto direto na qualidade de vida:
  • Fenômeno subjetivo;
  • Pouco compreendida;
  • Não é um sintoma homogêneo;
  • Confundido com depressão/fraqueza muscular.

De definição complexa e múltipla , na dependência da área de análise:


10 Cunha AG. Dicionário etimológico da língua portuguesa. 2a ed. Rio de       Janeiro: Nova Fronteira; 1999.
13. North American Nursing Diagnosis Association (NANDA). Nursing diagnoses: definitions and classification 2003-2004. Philadelphia: NANDA Internacional; 2003. p. 74.
21.   Dorland WAN. The American illustrated medical dictionary. 20th ed. Philadelphia: Saunders; 1981. 6. Index Medicus. Washington: NIH Publications; 2002.
36. Lee KA, Hicks G, Nino-Murcia G. Validity and Reliability of a scale do assess fatigue. Psychiatr Res. 1991;36:299-305
37. McArdle WD, Katch FI, Katch VL. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: 4a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1998. cap. 19. p. 333.
38. Ream E, Richardson A. Fatigue: a concept analysis. Int J Nurs Stud. 1996;33(5):519-29.
39. Varrichio CG. Selecting a tool for measuring fatigue. Oncol Nurs Forum. 1985;12:122-7.
40. National Cancer Institute. Fatigue. [text on the internet]. 2002 [cited 2002 Jun 14]. Available from: www.cancer.gov
41. Meloncini MA, Cardoso PEC, Grande RHM, Muench A. Fa- lhas de grampos circunferenciais de próteses removíveis em função de ciclagens de flexão. Rev Odontol Univ São Paulo. 1998; 12 (3):257-60.
42. Petrucci G, Zuccarello B. Fatigue life prediction under wide band random loading.


Definição geral:

Qualquer  fenômeno de declínio de função

Definição em Esclerose múltipla:

“ Uma sensação de cansaço físico profundo, perda de energia ou mesmo uma sensação de exaustão, com características diferentes da depressão ou fraqueza Muscular.” ( krupp e coyle – 1994)

“Uma sensação subjetiva de perda de energia física e/ou mental, que é percebida pelo paciente ou por seus familiares e interfere com a vontade e com as atividades diárias.”
(msc for clinical practice guidelines – 1998)


TB – Tuberculose
DM – Diabetes Mellitus
IRA – Insuficiência Renal Aguda
IRC – Insuficiência Renal Crônica


AR – Artrite Reumatoide
LES – Lupus Eritematoso Sistêmico
RGE – Refluxo Gastoesofágico
PK – Doença De Parkinson
EM – Esclerose Múltipla
DPC – Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica
ICC– Insuficiência Cardíaca Congestiva
ICO – Insuficiência Coronariana
SPI – Síndrome Das Pernas Inquietas
MPMI – Movimento Periódico Dos Membros Inferiores
AB – Antibióticos


Caracteristicas da fadiga na esclerose multipla:
  • Sintoma frequente e geralmente incapacitante;
  • Acomete em torno de 65-97% dos pacientes;
  • Está entre as duas maiores causas de desemprego em pacientes com esclerose múltipla (EUA);
  • Pode aparecer isolada ou associada aos surtos;
  • Pode agravar outros sintomas;
  • Vinculada a grau de incapacidade persistente;
  • Não há correlação com forma de apresentação da esclerose múltipla – há maior intensidade nos portadores da forma progressiva;
  • Mais intensa  no final da tarde e nas temperaturas elevadas;
  • Em 30%  dos pacientes é o sintoma inicial;
  • Não há correlação com idade e sexo;
  • Nao há correlação  com EDSS. 


Fadiga e cofatores:
  • Desordens afetivas/humor ( depressão)
  • Dor
  • Desordens do sono
  • Drogas
  • Metabólicas/infecciosas


Drogas
Fadiga
Imunomoduladores
EX. INTERFERONS
Anti-convulsionantes
EX. FENOBARBITAL
Sedativos
EX. CLONAZEPAN
Anti-depressivos
EX. AMITRIPTILINA
Relaxantes musculares
EX. CICLOBENZAPINA
Anti-histamínicos
EX. LORATADINA
Anti-espásticos
EX. BACLOFENO
Analgésicos
EX. CODEINA
Metabólico-Infeccioso   e  Fadiga

Anemia

Hipotireoidismo

INFECCAO URINARIA

INFECCAO VIAS AEREAS SUPERIORES

DIABETES MELLITUS



Sua causa não é totalmente conhecida. Há interação entre fatores biológicos e psicológicos que contribuem para seu início e severidade. 

Desordens de humor, pobre habilidade  de enfrentamento, alterações hormonais, alterações do sistema imune, associadas as consequências da própria desmielinização (diminuição da condução do estímulo nervoso).

O diagnóstico  é difícil e subjetivo. Deve-se pensar nas várias possibilidades de diagnósticos diferenciais, bem como comorbidades. Exames são necessários para auxiliar. Exemplos: avaliar presenças de anemia, hipotireoidismo, diabetes, infecções, entre outros.

O tratamento necessita de uma ampla visão, preferencialmente com equipe multiprofissional.

A estratégia terapêutica visa primordialmente evitar os desencadeantes possíveis e poupar energias.

O que fazer? Check list:

Para o funcionamento adequado do organismo humano, dois “combustíveis” são fundamentais: glicose e oxigênio. Quanto mais intensas forem as atividades do cotidiano maior será o consumo de oxigênio. 

Não farmacológico

- Plano de exercicios/ condicionamento fisico

Beneficios: 
  • Melhora humor e dor(liberacao de endorfinas)
  • Reduz riscos cardiovasculares ( hipertensao arterial, dislipidemia)
  • Diminui sobrepeso ( que por si so acarreta fadiga, sobrecarga cardio-pulmonar e osteo-muscular)

Cuidados:
  • Busque orientação com um profissional ( fisioterapeuta, educador físico)
  • Busque realizar exercicios aeróbicos, isométricos, moderados
  • Busque intercalar períodos de atividade com períodos de repouso
  • Busque ambiente climatizado para evitar grande aumento de temperatura corporal
  • Exercite-se regularmente

- Conselhos nutricionais

Proposta:
  • Aumentar reserva energética
  • Melhorar padrão do sono
  • Avaliar hábitos
  • Assegurar qualidade da alimentação:

  1. Dieta balanceada: rica em vitaminas, proteínas, minerais e carboidratos complexos (vitaminas auxiliam no processo metabólico, proteínas ajudam na produção de massa muscular, carboidratos complexos são quebrados lentamente e levam a um consumo energético menor e uma assimilação mais lenta). Rica em fibras ( aveia, farelo de trigo, gergelim, entre outros, facilita o bolo fecal, menos esforco evacuacional)
  2. Comer pequenas refeições durante todo o dia (6x) ( evita maior flutuação energética)
  3. Evitar açúcar refinado e outros doces ( menor flutuação energética, menor riscos de eventos hipoglicêmicos e quedas energéticas)
  4. Assegurar hidratação adequada ( desidratação lentifica os processos metabólicos) - média de 2 litros/dia de água
  5. Limitar consumo de cafeína e cigarro ( cafeína acelera o metabolismo, cigarro acarreta menor oxigenação dos tecidos)
  6. Cuidado com mulheres pré-menopausa - risco sangramento - suplementar ferro
  7. Limitar consumo de álcool ( álcool produz energia, que não nutre adequadamente os tecidos)

 - Programas de esfriamento
  • Calor x fadiga – déficit condução do estimulo nervoso
  • Colete de gelo -  melhora da condução
  • Hidroginástica – evitar temperaturas maiores de 29ºC
  • Banhos – preferir banhos  rápidos e mornos, temperatura em torno de 16-17ºC

- Estratégias de conservação de energia
  • Alternar periodos de atividade moderada com periodos de repouso
  • Fazer agenda de atividades – otimizar atividades da vida  diária
  • Otimizar períodos de subir escada
  • Tentar  eliminar barreiras arquitetônicas  que causem mais desgaste fisico
  • Adaptar e utilizar utensílios que auxiliem nas atividades
  • Eliminar atividades desnecessárias
  • Organizar o tempo
  • Organizar o ambiente
  • Busque a orientação de  um terapeuta ocupacional

- Terapias complementares
  • Yoga
  • Acupuntura
  • Meditação
  • Aprender a respirar adequadamente/respiração diafragmática
  • Acalmar a mente
  • Controlar ansiedade
  • Melhorar padrão de sono

Farmacológico

Se não houver eficácia nas condutas não farmacológicas ou dificuldade de aderência, medidas farmacológicas podem ser utilizadas.

Opções:
  1. Amantadina
  2. Pemoline
  3. Modafinil
  4. Antidepressivos
  5. 4-aminopyridine
  6. 3,4-diaminopyridine
  7. Transdermal histamina/cafeína


Você é o comandante de sua vida. É a mudança. É o sujeito ativo e não o paciente. Vigie pensamentos e sentimentos.

A fadiga pode ser administrável e sua qualidade de vida pode sim dar um “upgrade”. Converse com seu médico e terapeutas.


Liliana Russo
Neurologista

Neurologista - sócia e Diretora Técnica da Holus Serviços Médicos Ltda - Médica Neurologista Assistente da Casa da Esperança de Santo André - Médica Neurologista e de Apoio nas Atividades Científicas da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla - Médica Neurologista Voluntária no Ambulatório de doenças desmielinizantes, da Faculdade de Medicina da Fundação ABC – Diretora Técnica da ABCEM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário