Ser feliz é deixar de ser vítima dos problemas e tornar um
autor da própria história.
(Augusto Cury)
É mais do que normal quando do diagnóstico de qualquer
doença, seja ela passageira ou incurável, que nos sintamos desprotegidos e
vítimas das circunstâncias. Nós choramos, nos fragilizamos, buscamos apoio às
nossas lamentações, medos e incertezas. Queremos "colo".
O choque do diagnóstico faz com que nos sintamos as pessoas
mais desafortunadas do mundo e isso é compreensível, pois, seja a enfermidade
que for, ela nos debilita tanto física quanto emocionalmente.
Ficamos de luto pela nossa perda. Perda sim, pois, mesmo
que transitoriamente, perdemos a saúde e se instala em nós a debilitante
sensação da perda de controle da nossa própria vida, pois passamos a depender
de tratamentos medicamentosos e, muitas vezes, de terapias
complementares. Viver esse luto é essencial para que recobremos as rédeas
do que fazer com nós mesmos enquanto estivermos adoecidos.
Porém, o sentimento de autovitimização não pode nos
perseguir durante todo o nosso processo de convivência com a patologia,
sobremaneira quando o diagnóstico aponta que teremos de carregá-la pela vida
inteira, como por exemplo no caso da Esclerose Múltipla. Ser vítima de uma
doença é uma fatalidade, porém, se autovitimizar é tornar-se prisioneiro do
sentimento de autopiedade, é ter pena de si mesmo e se colocar na posição de
eterno sofredor.
A autocomiseração corrói a alma e contamina todas as
emoções que a tocam. A autocompaixão se irradia e atinge aqueles que nos
circundam, fazendo com que eles se tornem endurecidos e deixem de nos estender
as mãos quando de fato precisamos.
Lamentações, lamúrias, choramingos não fazem com que as
pessoas sintam vontade de lutar conosco, pelo contrário, elas causam repúdio e
acabam nos fazendo solitários, enclausurados dentro de nós mesmos, sem qualquer
chance de libertação.
Ninguém precisa e nem tem a obrigação de ser forte o tempo
inteiro. Não somos super-heróis e por isso temos direito ao choro, aos dias
escuros, aos momentos de profundo desencanto e revolta. Mas, o que temos de ter
bem nítido em nossos sentimentos é que somos muito mais fortes do que imaginamos
e possuímos um poder de enfrentamento imensurável que, muitas vezes,
desconhecemos por estarmos mergulhados na posição de vítimas da situação.
É preciso que levantemos a cabeça e sigamos em frente seja
como for. Não será um corpo perfeito e, quando digo perfeito não me refiro aos
padrões de perfeição impostos pela mídia, mas perfeito em termos de ter todas
as funções preservadas, que fará de nós uma pessoa que se faz compreendida e
respeitada. Nossa voz nunca será aprisionada por uma enfermidade, seja ela qual
for, enquanto mantivermos nossa mente sã, mesmo que às vezes nos demos o
direito de fraquejar e demonstrar nossas fragilidades e imperfeições como seres
humanos que somos.
Há vida depois de um diagnóstico. A vida não se limita ao
conceito do que é ou não ser saudável, pois existem pessoas com um corpo
perfeito e uma mente adoecida e pessoas que se encontram em leitos
hospitalares, com enfermidades para as quais não encontramos palavras para
descrever, mas que possuem mentes tão sãs que todo o resto se torna pequeno
diante da grandiosidade de suas forças emocionais.
Bete Tezine
"A arte, em todas as suas formas de expressão, tem o poder de mudar os rumos de uma história que desde o começo estava fadada ao fracasso..."
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