Fonte: http://doutissima.com.br/2014/07/06/conheca-os-efeitos-da-esclerose-multipla-e-como-conviver-com-doenca-548232/ |
Meus
gritos de desespero ecoavam nos corredores daquela ala do hospital onde eu
estava, meu coração se dilacerou e ficou em farrapos. Uma das piores notícias
de minha vida, só perdeu pra notícia que recebi quando meu pai estava com
câncer alguns anos depois deste episódio. Eu não via nada nem ninguém ao meu
redor, somente o medo. Meus cinco segundos de desespero foram importantes pra
mim, pensava nas minhas filhas, gritei de raiva, gritei com toda minha força,
minha garganta tremia com a vibração das minhas cordas vocais.
Ouço
meus gritos e uivos até hoje, se eu fechar os olhos ainda consigo sentir a
mesma sensação. O médico disse: ”Esclesore Mútipla”. E mesmo sem saber ao certo
o que era, eu sabia que nada de bom poderia ser, pois eu não sentia nada no meu
corpo do pescoço pra baixo, já não me levantava, minhas pernas se mexiam com
muita dificuldade.
Eu
só conseguia pensar em minhas filhas, com a mente atordoada eu ainda me
lembrava do “din din din don don don” da ressonância magnética e o meu grito de
“nããããooooo” zumbia ainda em meus ouvidos. Meu pai e minha mãe entraram em
choque. Após o desespero, que durou sinceramente alguns segundos, veio o silêncio,
tenebroso silêncio que dava para ouvir ainda o eco que meu grito causara
naqueles corredores frios.
Estávamos
todos assustados, os olhares se cruzavam e meu médico acabou com o silêncio explicando
sobre essa doença que nunca ouvimos falar.
Não
estava sendo fácil, aliás até algum tempo atrás não era, muitas pessoas
acreditam que esclerose múltipla tem a ver com gente “doida”. Queria traçar um
caminho de volta, mas era ineficiente minha tentativa.
Foi
no silêncio da minha ignorância que eu me acalmei.
Já
naquela altura, toda minha família e amigos estavam apavorados, cada visita que
eu recebia parecia que a pessoa entrava no quarto com um ponto de interrogação
gigante ao passar pela porta. Não consigo me lembrar corretamente, porque minha
dor de cabeça era muito forte, mas uma visita me marcou, pois com ela eu pude
perceber que não seria tão fácil emocionalmente passar por aquilo tudo.
Quando
uma prima entrou no quarto, ela começou a me perguntar como eu estava, o que
tinha acontecido e imediatamente ao dizer que eu não sentia as minhas pernas,
ela passou a mão na minha sola do pé, como se estivesse querendo fazer cócegas,
eu estava vendo o que ela fazia, mas nenhuma sensibilidade se mostrou naquele
momento, ela então se assustou ao ver que não esbocei nenhuma reação, já que eu
morro de cócegas nos pés.
Fiquei
pensando, realmente muito esquisito você ver uma parte de seu corpo ali sem
reação a qualquer estímulo.
Quanto
medo, mas eu tentava não demonstrar. Uma coisa que me deixou mais calma foi a
confiança que adquiri em meu médico, eu simplesmente sentia que ele estava
certo de que eu poderia confiar. Não tem uma regra certa para que possamos
descobrir o melhor médico, a melhor saída ou o caminho a seguir, creio que seja
necessário apenas fechar os olhos e sentir.
Depois
de tudo isso, foi preciso passar por uma reforma íntima, me abri ao profundo
sofrimento para que o sorriso pudesse me contagiar.
Tive que passar por uma
reforma interior, olhar cada detalhe, velho ou novo e tudo isso passar por um
critério de avaliação para saber o que fica, o que pode ser mudado e o que sai,
mas sair mesmo, em definitivo.
Aquilo tudo passou, portanto...
fora.
Sei que alguns de vocês se
identificaram com este relato, claro que ele é apenas a ponta de um grande
iceberg, mas o importante é que estou aqui hoje, em meio às minhas escleroses,
vivendo da melhor maneira que posso. Uma das coisas que me ajudaram muito foi
me manter em equilíbrio na “síndrome de Poliana”, sabia que tinha pessoas
piores que eu, mas tinham melhores também e foi exatamente isso que busquei,
estar melhor cada dia. Não estou falando de físico, mas sim do mental,
espiritual, cuidando daquilo que comanda nosso corpo muito mais do que
imaginamos: o cérebro.
Vivo na roda-viva de emoções e
turbulências, de altos e baixos e de alegrias e tristezas, em reforma íntima
constante e, cada reforma que passo, é como se eu pudesse recarregar minhas
baterias até a próxima etapa. Talvez seja por isso que vivo aprendendo, talvez
seja por isso que consigo entender um irmão, talvez seja por isso que tenho
tantas histórias pra contar, pois vivo plenamente a minha roda-viva, da maneira
mais intensa que eu consigo viver, pois sou apenas mais uma em meio à multidão.
Já fez sua reforma íntima?
Você pode mais, muito mais que imagina.
Paz e bem!
Máyra Macedo
Máyra Macedo, 40 anos.
Mãe de 3 filhas, Giulia, Gabriela e Pietra com 17, 15 e 10 anos respectivamente.
Formada em Logistica, Pós-graduada em Gestão de Açúcar e álcool pela UFSCar.
Youtuber do canal Faça Quase Tudo .
Apresentadora de TV na TV Cultura Paulista (Quadro Faça Quase Tudo, no programa Universo Mais).
Figurinista dos espetáculos Quebra-Nozes e Frozen da escola de ballet Renata Canova.
Decoradora e personal organizer.
Que texto maravilhoso ! Você é muito bonita !
ResponderExcluirNão sei se foi nessa época que te conheci Mayra mas me lembro que você estava muito assustada, só espero do fundo do meu coração que eu tenha ajudado a manter a mente quieta e não se desesperar. Mas sei que esse processo é longo e que temos altos e baixos durante toda a vida !!!
ResponderExcluirParabéns por seu trabalho, estou amando !!!
Bjs
Fabi