sexta-feira, 10 de junho de 2016

Meu tempo



Fonte: Google imagens


Nós, pacientes de esclerose múltipla, passamos por várias situações tipo “saias justas”, quando no início da nossa relação com a doença, da nossa relação com as pessoas de nosso entorno e também com pessoas que nada têm de relação conosco. Com o passar do tempo, começamos a criar mecanismos próprios para escaparmos de ter de engatilhar uma verdadeira aula de neurologia, com pitadas de fisioterapia e psicologia, a cada vez que nos deparamos com uma situação dessas.

Nada mais devastador do que, no meu caso, quando um dia saí da empresa onde trabalhava e fui ao centro da cidade para comprar determinada coisa que estava precisando. Estava com traje social e com uma pasta na mão. Tão logo cheguei ao calçadão, minha amiga fadiga incorporou. Não tive dúvidas, sentei-me ao meio fio e aguardei voltar minhas forças. Passou neste momento uma pessoa conhecida que perguntou: Aconteceu alguma coisa? Ao que respondi: Sapato novo, está acabando com meus pés.

Em outra ocasião, véspera de Natal, marquei com meu irmão para irmos bem cedo ao mercado para fazer as compras da ceia. Deixei o carro no estacionamento e fui caminhando para o mercado e dessa vez foi a tontura que incorporou em mim. Continuei a caminhar de forma não linear e logo atrás vinham duas senhoras comentando: Tão novo e já bêbado de manhã cedo. Ao virar a esquina encontrei meu irmão. Coloquei minha mão em seu ombro e falei em voz alta: Que bom te encontrar, já não vou beber sozinho.

Estava em casa, labutando com a reforma dela e, ao caminhar pelo quintal para ir pegar uma ferramenta para fazer uma ligação elétrica, a parestesia da perna direita incorporou e fui ao chão. Sem conseguir levantar, deitei e após uma hora meu filho chega da escola, olha para mim e pergunta: o que está fazendo? Respondo: olhando desenhos nas nuvens.

Com o passar dos anos e o pior é que eles passam, comecei a ser apresentado a outros aspectos relativos à administração do tempo e do espaço e é aí que começa a verdadeira adaptação, minha e dos que comigo convivem, adaptações estas nem sempre fáceis, nem sempre pacíficas. Tais adaptações passam por você já não ser dono de seu tempo e por decorrência de sua vontade. Passam por um exercício de aprender a dosar seu tom de voz, quando às vezes, nem vontade de falar você tem. É abrir mão de suas vontades por não ter meios físicos de realizá-las. É domesticar aquela vontade de dizer como fazer algo para não magoar quem vai realizar. É, enfim, lembrar-se que você só é prisioneiro do corpo se enclausurar sua mente, pois o pensamento tem a velocidade da luz e sonhos não têm limites.

Bora aprender a pedir, bora aprender a esperar, bora viver sem limites, com limitações, BORA SER FELIZ!!!


Wilson Gomiero
Ativista social


6 comentários:

  1. MUITO BOM...ESTAMOS JUNTOS NESTE BARCO, ENTÃO NAVEGAMOS SUAVE

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  2. Opa!!!

    ara, conheço bem estas situações!
    Minha história com E.M. começa em 1986, quando morava em Portugal.
    Morei lá uns 2o anos(até ficar muito inteligente :-)
    Brincadeira... gente burra e inteligente tem em todo lugar!
    Meu filho nasceu lá, mas não pode ser portugês, não que fisesse questão (já tem os documentos italianos que pegou o meu! Pude pude batisa-lo de Giancarlo, lá não seria possível!
    Depois deste tempo por lávoltamos todos para o Brasil (SP) . M inha ex-mulher queria voltar para cá ! Ela é dentisia e volta sempre para verificar os consultórios por l´á...
    Eu sou Chef de Cozinha. me arranjo!
    Se quiser "bater um papo" pelo coputador, basta me achar! Estou sempre como frascolla no Skype e Messenger! Forte abraços
    Carlo

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  3. Quando eu crescer quero ser igual à você meu guru. Dinha me dá licença más amo este homem. Bjs

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  4. Ser feliz é uma escolha, q já fiz a bastante tempo!
    😄

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  5. lindo texto amigo, parabens.
    A doenca nos ensina a ter humildade!
    nessa vida, sao nossas escolhas que tracam nossa jornada, entao escolher ser feliz deixa tudo tao mAis facil

    super beijo no ��saudades de vcs

    Suzete Zanatta

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