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A esclerose múltipla, em
alguns aspectos, pode nos deixar várias dúvidas, por exemplo: será mesmo que
qualquer abalo psicológico pode desencadear um surto no paciente de esclerose
múltipla?
Até um tempo atrás eu não havia feito o exercício de rememorar os meus
surtos, verificando se próximo a eles eu havia tido um fato não rotineiro em
minha vida. Como era de se esperar, comecei esta minha revisão do passado pelos
fatos tristes, que ocorreram e que poderiam ocasionar o surgimento da exacerbação
da doença. Para minha surpresa, realmente, quando eu tive surtos mais fortes, foram
próximos a episódios que muito me abalaram, porém havia alguns que eu não
conseguia conciliar com episódios tristes da minha vida, era de se esperar que tais
ocorrências houverem sido ocasionadas pela própria doença. Só após um tempo,
percebi também que vários desses episódios tinham relação, não com um fato
triste, mas sim com alguma situação em que eu havia experimentado o sucesso ou
alegria.
Não tenho como afirmar, com absoluta certeza,
que realmente o aspecto psicológico pode interferir no progresso da esclerose
múltipla, porém, para mim, ficou bem claro que realmente todas as vezes que por
um bom motivo eu me alterei, logo em seguida me veio a ocorrência de um surto.
Passei então a prestar mais atenção o quanto eu poderia minimizar os efeitos
dessas variações em minha vida. Atualmente, embora também não possa dizer que
seja só por isso, estou a mais de dois anos sem ocorrência nenhuma com relação à
esclerose múltipla. Poderão dizer ainda que isso seja ocasionado pelo avançar
na minha idade, pois também ouço muito que, a partir de uma determinada idade,
nosso organismo perde um pouco da sua capacidade autoimune, fazendo que com
isso haja uma diminuição na ocorrência de surtos. Acredito que somente com estudos bem profundos poderemos afirmar, com certeza, a interferências desses fatores externos no avançar da doença.
Meu primeiro surto, quando ainda não tinha o
diagnóstico fechado de esclerose múltipla, foi em 1982 e somente após sete anos
conseguimos encontrar explicação para o que havia ocorrido. Voltando ao aspecto
psicológico, um pouco antes desse episódio, eu havia perdido, em circunstâncias
não normais, uma tia com a qual eu tinha uma ligação muito grande. Meu surto deu-se logo após o seu falecimento. Rememorando um pouco mais, consigo também
interligar vários surtos a episódios que ocorreram na minha vida. Foram só
episódios tristes? Não, em algumas circunstâncias o fato de eu ter ficado muito
alegre com um determinado acontecimento, também levou à ocorrência do surto.
Existe alguma forma mágica para que não
tenhamos sobressaltos que possam levar a uma piora do nosso
quadro? Não, não sei de nada que pudesse deixar-nos, por assim dizer, blindados
contra o que pode ocorrer em nossas vidas. Acredito que o grande truque que
podemos utilizar seria o de enfrentar a nossa vida não nos levando muito a
sério, pois quanto mais tentarmos ter o domínio da nossa situação, mais estaremos
propensos a sofrer uma desilusão ou euforia além do normal. Sei que muitos vão
dizer: falar é fácil, o duro mesmo é colocar isso em prática, porém se não
tentarmos, nunca saberemos se é ou não possível ter um pouco de domínio sobre o
nosso corpo.
Nesse ponto é que vejo a vantagem de estar
participando de um grupo de pacientes e cuidadores, pois com a troca de idéias podemos exercer um domínio maior no nosso modo de encarar a realidade, que nem
sempre é bela, tranquila e alegre. Costumo lembrar sempre de uma música gravada
por Elis Regina que diz, em determinado trecho: “vivendo e aprendendo a jogar,
nem sempre ganhando, nem sempre perdendo, mas aprendendo a jogar”.
Vamos então para o jogo da vida, dentro das
regras que ela nos impõe.
Desejo a todos uma boa
partida.
Wilson Gomiero
Ativista social
Sr. Wilson, é gritante o quanto o emocional promove a possibilidade de um surto, a curto ou médio prazo. Tenho buscado respostas científicas, mudanças quimicas e fisiologicas desencadeadas nestes momentos. Acredito que tem a haver com aumento da formação de radicais livres. Quero me aprofundar mais neste assunto. Sei que terapia alternativas ajudam muito para controlar o stress (acupuntura, musica, yoga, etc...), tudo que nos motivo a ficar mais equilibrados, serenos... . Um abraço
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