quarta-feira, 3 de agosto de 2016

Eu e minhas pinturas: EM cores...


Liane Moreira
Fonte: acervo pessoal

"Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse permanecer para sempre”.

(Gandhi)

Desde pequena, passei a vida achando que eu era apenas uma menina inteligente e que, portanto, não precisava ou não podia ter outros dons. Fui convencida, não sei bem como, nem por quem, que eu seria para SEMPRE, uma nerd com cabeça grande, olhos afastados e memória privilegiada.

Ano passado, após insistência da minha irmã e iniciativa do meu marido (que me deu livros de presente), comecei a colorir. Aos poucos estou descobrindo tanta coisa.

1) Não importa se sei ou não pintar, apenas importa que isso me faça bem. Tampouco, importa se as pinturas serão imediatamente úteis, afinal, até os nerds têm direito ao ócio e hoje, mais do que nunca, se sabe que esse ócio é essencial à manutenção da boa qualidade de vida.

Liane Moreira
Fonte: acervo pessoal
2) Pinto para mim, com cores e formas que me representam. JAMAIS pinto como os outros acreditam que eu deva pintar ou para me comparar a alguém. Até os nerds um dia entendem que é possível e preciso fugir, nem que por breves momentos, desta lógica competitiva e insalubre para qual vem convergindo o mundo global pós-moderno.

3) Todo mundo é capaz de aprender e como se aprende no you tube!! Ainda estou engatinhando. Mas, já noto que absorvi diversas novas formas de pintar. Como uma criança, olhei, interiorizei e agora estou praticando do meu jeito. Costumo agir assim com a minha esclerose múltipla também. Por mais que eu sinta as pernas dormentes, me treino a me equilibrar em cada uma delas individualmente. Desenvolvo brincadeirinhas para ver se mantenho a memória e a coordenação (devem me achar doida na rua, mas quem liga?). Por mais que fique tonta, tenho buscado conversar muda com meu cérebro, tentando sugestioná-lo de que cada segundo de tontura é apenas um momento que, como todos, irá passar. É apenas um estalo em que a máquina não funciona 100%, mas que ainda funciona.

4) Não me obrigo a pintar! Não tenho ordem, metas a cumprir e tampouco preciso terminar um desenho para começar outro. Meus coloridos são dinâmicos como a minha vida. Ultimamente, tem sido difícil levar alguns sintomas da EM e foi então que eu aprendi a me respeitar, me dando o direito de não fazer nada nos momentos em que não estou me sentindo segura. Chamo a atenção para uma questão central: quando se tem EM é preciso, mais do que nunca, se conhecer. É preciso entender o momento em que se deve ultrapassar obstáculos, mas também, ceder aos cansaços impostos pelos limites. A linha entre esses dois pontos é tênue e imprescindível e essa autoconsciência é, como a vida, também dinâmica. Ela muda ao passo que mudam os dias, os sintomas, os desafios...

5) Não desisto ainda que eu pareça estar desistindo. Nenhum verso de desenho borrado jamais será abandonado! Eu corto, colo, redesenho, reconstruo o livro como reconstruo a vida de forma diferente a cada novo dia, a cada nova notícia triste, novo sintoma, novo surto, novo tratamento! Às vezes, a reconstrução é mais rápida, às vezes lenta. Às vezes total, às vezes parcial. Às vezes sem marcas e às vezes lotada de cicatrizes. Mas, fato é que a vida é um construir e reconstruir diário e, é por isso, que trata-se de aprendizagem contínua!

Liane Moreira
Fonte: acervo pessoal


É por isso que é inesperada e maravilhosa!


Liane Moreira
Bióloga


2 comentários:

  1. MUITO LINDO@MUITO LINDO@ MUITO LINDO@MUITO LINDO@ MUITO LINDO@MUITO LINDO@
    MUITO LINDO@MUITO LINDO@

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  2. Obrigada pelo carinho e elogios Sérgio.

    Abraços e vida que segue!

    Liane

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