Liane Moreira Fonte: acervo pessoal |
"Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se
fosse permanecer para sempre”.
(Gandhi)
Desde pequena, passei a vida achando que eu era apenas uma
menina inteligente e que, portanto, não precisava ou não podia ter outros dons.
Fui convencida, não sei bem como, nem por quem, que eu seria para SEMPRE, uma
nerd com cabeça grande, olhos afastados e memória privilegiada.
Ano passado, após insistência da minha irmã e iniciativa do
meu marido (que me deu livros de presente), comecei a colorir. Aos poucos estou
descobrindo tanta coisa.
1) Não importa se sei ou não pintar, apenas importa que
isso me faça bem. Tampouco, importa se as pinturas serão imediatamente úteis,
afinal, até os nerds têm direito ao ócio e hoje, mais do que nunca, se sabe que
esse ócio é essencial à manutenção da boa qualidade de vida.
Liane Moreira Fonte: acervo pessoal |
2) Pinto para mim, com cores e formas que me representam.
JAMAIS pinto como os outros acreditam que eu deva pintar ou para me comparar a
alguém. Até os nerds um dia entendem que é possível e preciso fugir, nem que
por breves momentos, desta lógica competitiva e insalubre para qual vem
convergindo o mundo global pós-moderno.
3) Todo mundo é capaz de aprender e como se aprende no you
tube!! Ainda estou engatinhando. Mas, já noto que absorvi diversas novas formas
de pintar. Como uma criança, olhei, interiorizei e agora estou praticando do
meu jeito. Costumo agir assim com a minha esclerose múltipla também. Por mais que eu
sinta as pernas dormentes, me treino a me equilibrar em cada uma delas
individualmente. Desenvolvo brincadeirinhas para ver se mantenho a memória e a
coordenação (devem me achar doida na rua, mas quem liga?). Por mais que fique
tonta, tenho buscado conversar muda com meu cérebro, tentando sugestioná-lo de
que cada segundo de tontura é apenas um momento que, como todos, irá passar. É
apenas um estalo em que a máquina não funciona 100%, mas que ainda funciona.
4) Não me obrigo a pintar! Não tenho ordem, metas a cumprir
e tampouco preciso terminar um desenho para começar outro. Meus coloridos são
dinâmicos como a minha vida. Ultimamente, tem sido difícil levar alguns
sintomas da EM e foi então que eu aprendi a me respeitar, me dando o direito de
não fazer nada nos momentos em que não estou me sentindo segura. Chamo a
atenção para uma questão central: quando se tem EM é preciso, mais do que nunca,
se conhecer. É preciso entender o momento em que se deve ultrapassar
obstáculos, mas também, ceder aos cansaços impostos pelos limites. A linha
entre esses dois pontos é tênue e imprescindível e essa autoconsciência é, como
a vida, também dinâmica. Ela muda ao passo que mudam os dias, os sintomas, os
desafios...
5) Não desisto ainda que eu pareça estar desistindo. Nenhum
verso de desenho borrado jamais será abandonado! Eu corto, colo, redesenho,
reconstruo o livro como reconstruo a vida de forma diferente a cada novo dia, a
cada nova notícia triste, novo sintoma, novo surto, novo tratamento! Às vezes,
a reconstrução é mais rápida, às vezes lenta. Às vezes total, às vezes parcial.
Às vezes sem marcas e às vezes lotada de cicatrizes. Mas, fato é que a vida é
um construir e reconstruir diário e, é por isso, que trata-se de aprendizagem
contínua!
Liane Moreira Fonte: acervo pessoal |
É por isso que é inesperada e maravilhosa!
Liane Moreira
Bióloga
MUITO LINDO@MUITO LINDO@ MUITO LINDO@MUITO LINDO@ MUITO LINDO@MUITO LINDO@
ResponderExcluirMUITO LINDO@MUITO LINDO@
Obrigada pelo carinho e elogios Sérgio.
ResponderExcluirAbraços e vida que segue!
Liane