terça-feira, 1 de novembro de 2016

Esclerose Múltipla (EM) sob o ponto de vista de doença Psicossomática


Fonte: Google imagens
O objetivo deste artigo é trazer uma reflexão para pacientes com diagnóstico da Esclerose Múltipla (EM), incentivando seus pensamentos à realidade na sua unidade, considerando os aspetos biológicos e psicológicos.

O psíquico influencia o corporal, há um reflexo do psíquico no corporal, existe uma interligação e unidade dos aspectos relacionais biológicos e dos relacionais psicológicos.

A psicossomática é a ciência que estuda as doenças orgânicas com descarga no corpo, isto é, uma lesão de órgão ou sistema provocado por alguma disfunção do sistema nervoso. 

Só há descarga no corpo quando a pessoa ainda não tem capacidade para pensar, quando não há mediação das pulsões pelo pensamento e ainda não há capacidade de simbolização. Assim, funciona à base de estímulo/resposta, em que a resposta é dada pelo corpo em forma de uma doença.

Para que uma doença possa ser designada como doença psicossomática, tem que existir lesão de órgão, se manifestar no corpo com sintomas e lesões físicas ou de sistema provocados pela incapacidade de elaboração das tensões psíquicas, mas cuja a causa principal se origina na mente, em conflitos emocionais ou psicológicos. Ou seja, é diferente de “somatização” porque nesta não há lesões detectáveis, seja por exame médico físico ou laboratorial.

Estas doenças são consequência da inversão pulsional sobre o organismo. Os impulsos em vez de se descarregarem pelo comportamento sobre o exterior são dirigidos para o interior, um ato orientado para dentro, o agir através dos órgãos internos.

Sempre que o sofrimento psíquico não é suficientemente expresso em nível afetivo e ideativo, por emoções e pensamentos, comunicado em palavras e expresso em atos, a saúde física periga e o caminho para a doença está aberto. 

Existem diversas áreas de doenças consideradas psicossomáticas, tais como: 

- As doenças alérgicas que têm uma especificidade própria. O corpo produz anticorpos que causam um excesso de reação. Por exemplo, o eczema, a asma, a febre dos fenos, a dermatite atópica e a urticária. 

- Doenças autoimunes como, por exemplo, a diabetes, a doença de khron, a epilepsia, a alopecia (queda de cabelo) e a esclerose múltipla. 

- Cancerologia - está provado que em diversos cancros há um componente psicológico e muitos deles surgem após uma depressão ou uma perda de alguém amado. 

Para a psicossomática a EM é considerada uma doença autoimune, ou seja, a própria pessoa, inconscientemente, pode se punir. Para entender isso, é preciso lembrar que o inconsciente transmite suas mensagens através dos sonhos e/ou do corpo e que sua linguagem é simbólica.

Lembre-se que estamos falando de conteúdos inconscientes e este busca sempre o aprendizado e o crescimento, independente do caminho. Sugiro que cada um faça uma análise profunda sobre cada um de seus sintomas e considere que a interpretação feita aqui, é uma hipótese do que o inconsciente deseja mostrar.

Todos os sintomas geralmente estão relacionados com o histórico de vida de cada um e creio que entendendo a origem de seus sintomas e, relacionado-os com seu jeito de ser, é possível se tornar um ser ativo para maior entendimento, aceitação e melhor qualidade de vida.

O objetivo do inconsciente é fazer com que a pessoa entenda os motivos de seus sintomas e que eles provoquem uma mudança no padrão de comportamento. Entendido isso, muita coisa pode mudar.

Segue algumas interpretações de alguns sintomas: 
  • Dificuldade de expressar a raiva: pode se manifestar pela asma, hipertensão arterial etc;
  • Dificuldade de expressar sentimentos: pode se manifestar em prisão de ventre (constipação intestinal);
  • Pessoas muito “perfeccionistas” e “estressadas”: pode manifestar enxaquecas frequentes;
  • Tendência a reprimir emoções por muitos anos: podem desenvolver câncer (de acordo com estudo de cientistas como B. Siegel, Lawrense Leshan etc);
  • Pessoas com dificuldade de chorar: pode desenvolver doenças de pele, com lesões dermatológicas que produzem secreções;
  • Pessoas que reprimem muito seus sentimentos: podem ter doenças degenerativas, como câncer, diabetes, esclerose múltipla etc;
  • Pessoas mais explosivas: podem ter doenças como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral, hipertensão arterial;
  • Pessoas que assumem responsabilidade exageradamente na família: podem desenvolver fibromialgia.

Corpo e mente funcionam em harmonia de tal modo que quando algo é pesado para a mente carregar, em termos de tensão nervosa, é como se o corpo oferecesse ajuda para a mente, e por estar pesado lidar com o sofrimento mental, a mente recorre ao corpo. E, então, a mente “joga” para o corpo parte de sua tensão e o corpo começa a apresentar sintomas que são psicossomáticos.

Há alguns estudos que dizem que quanto mais a pessoa tem dificuldade de tomar consciência de suas emoções, principalmente as dolorosas e desagradáveis, é mais provável que ela apresente sintomas psicossomáticos, pois o corpo absorve tais sentimentos que a pessoa se sente inapta para vivenciá-los em nível consciente.

Muitos dos sintomas e surtos da esclerose múltipla podem ser interpretados utilizando o conceito da psicossomática. Trazer para seu consciente estas manifestações poderão te ajudar a compreender muitos dos seus sintomas e amenizar suas queixas de surtos através de mudanças de comportamentos e pensamentos.

A estrutura da personalidade, com desejo de controlar e planejar tudo com antecedência, mostra através dos sintomas o quanto isso se torna difícil e angustiante. A rigidez e as concepções fixas contrastam com a tendência de fazer justiça a tudo. Com isso, muitos pacientes de EM negligenciam suas próprias necessidades, podendo os tornar internamente irados. Incapazes de impor-se e externar agressões, eles a dirigem para dentro, contra si mesmos, o que explica a doença como autoimune.

A tarefa não pode estar em mais entrega às exigências do meio ambiente, mas em primeiro lugar em uma entrega às próprias necessidades. O endurecimento e a rigidez que são características comuns das pessoas com EM mostram ainda o quanto é necessário buscar a flexibilidade, soltar, aliviar, relaxar e não mais controlar e querer fazer tudo, sobrecarregando mente e corpo.

Os próprios sentimentos, sonhos e seu espaço vital tornam-se tarefa de vida, como tocar e sentir o mundo interno que muitas vezes foi negligenciado. A autorreflexão de cada sintoma pode fazer com que cada paciente supere muitos de seus próprios preconceitos e limites e perceba o aprendizado que se pode, e deve-se, aprender com a EM.

A interpretação junto com um profissional da psicologia pode facilitar esse processo de aprendizado, transformação e evolução.

AVALIE SE VOCÊ TEM UM PERFIL PSICOSSOMÁTICO:

O questionário abaixo foi elaborado, a pedido da VEJA, pela psicóloga Marilda Lipp, do Centro Psicológico de Controle do Stress. Responda às perguntas e verifique se o seu modo de sentir e agir é o de uma pessoa suscetível à somatização.

Lembre-se de que o diagnóstico preciso só pode ser feito por um especialista.

Responda Sim ou Não:

1 . Às vezes choro sem conseguir entender exatamente o porquê
2 . Consigo disfarçar muito bem quando estou com raiva
3 . É fácil para os outros perceberem se estou feliz
4 . Ás vezes me pego sonhando acordado(a)
5 . Não tenho dificuldade para nomear aquilo que sinto
6 . É bom "fantasiar" um pouco sobre as coisas
7 . Gosto de conversas objetivas e diretas
8 . Frequentemente, fico confuso(a) sobre qual emoção estou sentindo
9 . As pessoas mais próximas de mim têm dificuldade de entender como me sinto
10 . A raiva é o sentimento mais frequente em minha vida
11 . Acho que é uma perda de tempo ficar me perguntando sobre o porquê das coisas
12 . Quase não sonho quando durmo

A) Se você respondeu "sim" às perguntas 1, 2, 7, 8, 9, 10, 11 e 12, some 1 ponto para cada questão.
B) Se você respondeu "sim" às perguntas 3, 4, 5 e 6, some 1 ponto para cada questão.

Em seguida, faça a subtração A - B. 
Se o resultado dessa subtração for:

Até 3: seu perfil não se parece com o de pessoas que sofrem de doenças psicossomáticas. Você provavelmente é o tipo de pessoa que está em sintonia com suas emoções.

De 4 a 5: você tem alguma dificuldade de identificar ou nomear as suas emoções. Isso pode resultar em algumas manifestações físicas. Aprender a identificar e dar vazão ao que sente o ajudará a não sofrer desconforto físico diante de problemas que são, na verdade, mais de origem psicológica do que biológica.

6 ou mais: ao que tudo indica, você tem muita dificuldade para entender o que se passa em seu íntimo, de nomear suas emoções e de admitir o que sente. Seu corpo provavelmente mostra sinais de desgaste diante de tanta emoção reprimida. Recomenda-se procurar ajuda especializada.

*Toda doença deve ser tratada com um médico. O acompanhamento psicológico deve ser feito concomitante a ele e nunca exclusivo.


Cibele Cintra Sousa
Psicóloga - CRP: 06/66128



Fontes de referências bibliográficas:




Graduação em Psicologia (2001), Coach de Carreiras, MBA em Gestão Estratégica em Desenvolvimento de Pessoas.
Atuação em Psicologia Clínica: Avaliação Comportamental e Análise de Perfil Psicológico.
Psicóloga integrante da ABCEM para apoio e contribuições ao grupo de pacientes com Esclerose Múltipla.  
Atuação em Recursos Humanos Estratégico: Consultora de RH na assessoria de projetos em Desenvolvimento de Pessoas e Coach.




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