Fonte: Globoesporte.com |
Respirar, na verdade, refere-se à
produção de energia pela célula. O termo adequado a ser empregado em se
tratando dos mecanismos de troca gasosa deve ser ventilar, mas o hábito tem
desencadeado a regra.
Hiperventilação
ou hipoventilação são termos usados no meio médico para definir respiração
acelerada ou diminuída. A respiração (ventilação) consiste de um processo
automático (não é preciso pensar para respirar), mas também pode se dar de
forma voluntária (em menores proporções) e sofre influência também das
concentrações de dois gases principais, o oxigênio e o gás carbônico. A
atividade especializada e coordenada de neurônios localizados na região do
bulbo e ponte (tronco cerebral) permite aos seres humanos inspirar e expirar
de forma harmoniosa. Contudo, esses centros especializados sofrem
interferência de outras regiões do cérebro, do sistema límbico (relacionado às emoções),
por exemplo. Em situações de grande temor ou pânico, respira-se de forma mais ofegante,
em ambientes tranquilos e acolhedores, a respiração tende a ser de acordo, em
se tratando de atividade física, tipo corrida, ciclismo ou natação, a
respiração altera radicalmente.
A respiração também é um processo mecânico e
depende da ação da física, tendo importância os conceitos de pressão, volume e
fluxo. A força gerada pelos músculos respiratórios (pressão) permite que o ar
seja sugado do meio ambiente para o interior da caixa torácica (aumentando o
volume), especialmente pela ação do principal músculo da respiração que é o
diafragma. Em um minuto o indivíduo respira 12 vezes (respiração tranquila), em
uma dada velocidade (fluxo). Quando inspiramos, o diafragma, que tem uma forma côncava,
desce e aplaina comprimindo os órgãos internos (abdome) e aumentando assim o
comprimento do tórax no sentido longitudinal. A expiração tranquila se dá pelo
simples relaxamento desse músculo. Os músculos intercostais internos elevam as
costelas e o tórax cresce no sentido transversal, os intercostais internos
fazem o movimento contrário deprimindo as costelas e diminuindo o tamanho do
tórax, mas a cinesiologia (estudo do movimento) respiratória conta também com o
auxilio dos músculos acessórios da respiração que em situações de estresse ou
exercício são acionados sinergicamente. Os pulmões têm, portanto, entre outras
atribuições, a função de captar oxigênio que é a moeda ouro circulante no
ambiente para o organismo. O sangue conduz esse gás e o distribui através do
coração para todas as células de modo a garantir o metabolismo dos órgãos e
tecidos corporais. Esses mecanismos diferem quando se trata de sono e vigília
em vários aspectos. Durante o sono, por exemplo, o sistema voluntário (dependente
da vontade) não atua apenas o automático. Durante o sono REM (movimento rápido
dos olhos), ocorre atonia generalizada dos músculos, sendo o diafragma e a
musculatura dos olhos os únicos a moverem-se. Nessa situação ocorre também um
fenômeno denominado hipoventilação fisiológica, respira-se mais brandamente,
sem grande expansão pulmonar e em ciclos menores. Na presença de doença que
curse com fraqueza ou incoordenação da musculatura respiratória, algo que desfavoreça
a ação principalmente do diafragma, então os sintomas de hipoventilação poderão
exacerbar-se. O que seria imputado à fisiologia passa a ser considerado
patológico. Há tantos outros aspectos que podem comprometer o sono, mas este é
um dos de grande destaque.
Alguns
pacientes já chegam ao consultório com queixas do tipo: sonolência diurna
excessiva, fadiga exacerbada, dispneia (falta de ar), alterações de memória e
concentração, fraqueza, perda de peso (comum em muitas doenças neuromusculares)
ou ganho excessivo (síndrome pós-poliomielite e asma), perda da libido e
irritabilidade. Fatos que merecem uma avaliação mais acurada. Em outros tantos,
há necessidade que se pesquise sua ocorrência. Toda essa gama de sintomas
apresenta ligação com o sono não reparador. Dormir mal propicia eventos
nefastos em cascata, tanto no aspecto cardiorrespiratório como neurológico.
Entretanto, pode-se através da aplicação de uma simples escala de sonolência,
detectar possível apneia do sono. A apneia, que significa parada respiratória,
pode apresentar-se de forma leve, moderada ou grave. O ronco também deve ser
pesquisado.
Na esclerose múltipla, não são raras as queixas de distúrbios do
sono e, infelizmente, com repercussões para as atividades de vigília. Portanto,
na avaliação do fisioterapeuta respiratório e também em outras especialidades,
vale pesquisar aspectos relacionados ao sono e se visualizadas as inadequações,
pode-se simplesmente orientar aos pacientes as regras básicas de higiene do
sono ou indicar um exame mais específico, como a polissonografia e um possível
tratamento com suporte ventilatório, caso
se identifique problemas dessa natureza.
Noite ou dia, respire aliviado!!!
Celiana F. Viana
Fisioterapeuta cardiorrespiratória e mestre em ciências - UNIFESP-EPM
Fisioterapeuta formada
pela UEPB - Especialista (Fisiologia do Exercício e Cardiologia) - Mestra e com Doutorado em andamento pela
UNIFESP-EPM - Responsável pelo
setor de Fisioterapia Respiratória do Ambulatório de Síndrome pós-poliomielite
da UNIFESP-EPM - Fisioterapeuta Respiratória do Instituto Giorgio Nicolli e RNA
(atualmente)
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